
Autor
Bartolomeu Pinheiro
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Bartolomeu Pinheiro
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110 anos sem Oscar Wilde
O esteticista Oscar Fingal O’Flahertie Wills Wilde nasceu em Dubin (Irlanda) em 16 de agosto de 1854. Faleceu em Paris, no dia 30 de novembro de 1900. É considerado uma das figuras mais célebres da história da literatura mundial.
Wilde é aclamado, na literatura inglesa, como o segundo nome mais importante depois de William Shakespeare. Mesmo sendo um dos escritores mais populares da Inglaterra, muitos ingleses consideram essa colocação um tanto exagerada, supondo até que se não tivesse ocorrido o “escândalo” em sua vida, talvez ele caísse no esquecimento. Esse pensamento está muito longe da verdade.
Ele teve a infelicidade de ter nascido numa época extremamente preconceituosa, numa sociedade vestida sob regras rígidas de comportamento e ética. Qualquer desvio era duramente penalizado. E foi sob a acusação de sodomia que ele passou dois anos na prisão, com trabalhos forçados. Sobrevieram as degradações físicas e financeiras, psicológicas e morais. Se o atestado de óbito determinava “meningite cerebral”, por outro lado podemos chamar de “tristeza profunda”. Foi o preço da ousadia, da exuberância, da língua afiada que tanto o havia projetado à alta sociedade, e que depois o derrubava. Sua rara espiritualidade e preocupação estética, seus princípios filosóficos e morais hedonistas. Foi um crítico impiedoso da sociedade de seu tempo. “A sociedade, tal como a constituímos, não terá mais lugar para mim, nem me oferecerá nenhum.”
Mas ele não ficou famoso na história apenas por seu envolvimento amoroso com Lord Alfred Douglas, pela intolerância e hipocrisia do pensamento vitoriano. O irlandês foi um grande poeta, romancista, dramaturgo e crítico literário. Foi um grande proseador e frasista. Mas os maiores êxitos literários foram as comédias de costumes. Nesse sentido, seu primeiro sucesso foi O leque de Lady Windermere (1892). Neste mesmo ano, a peça Salomé arrepiava as platéias. Em 1893, Uma mulher sem importância, e em 1895 Um marido ideal e A importância de ser prudente. E muitas outras obras.
O Retrato de Dorian Gray, seu único romance, é o primeiro dos livros de Wilde no qual se encontram evidências de homossexualismo. É considerado sua obra-prima e um dos mais notáveis clássicos mundiais. Em seu prefácio, afirma que “nunca o artista é indecente. O artista pode exprimir tudo”. Muitos críticos afirmam que há muito de Wilde no personagem Dorian Gray. Mas no livro ele próprio afirma que “revelar a arte e ocultar o artista é o objetivo da arte”. Segundo o ensaio biográfico-crítico de James Laver, o livro não é indecente, mas conduz o leitor a um clima de sensibilidade. Nas palavras de Wilde, “qualificar um livro de moral ou imoral não significa coisa alguma”. Muitos de seus livros, que alguns críticos consideravam imorais, foram proibidos de serem vendidos e suas peças saíram de cartaz.
Na sua bibliografia, podemos destacar ainda O Príncipe Feliz e outros contos, Uma Casa de Romãs, O Crime de Lord Saville e outras histórias e Contos diversos.
Na prisão, escreveu A balada do cárcere de Reading, e em seguida De Profundis (Das Profundezas), “talvez a mais amarga apologia da dor até hoje escrita por um poeta”, nas palavras de Otto Schneider. Em De Profundis, Wilde afirma que “muitos homens, quando terminam o período da sua condenação, levam ainda consigo o cárcere, escondem-se no âmago do coração como uma secreta desgraça, e, por fim, como pobre criaturas para sempre envenenadas, escondem-se num buraco sombrio, e morrem”.
Famoso por seus aforismos, dois merecem ser citados agora: “Sou capaz de suportar tudo – menos uma boa reputação” e “a sociedade às vezes perdoa o criminoso, mas nunca o sonhador”. Ele viveu intensamente. Viveu cada momento.
Quase sessenta anos depois da sua condenação, em 1954, o juiz Travers Humphreys, que na época ainda era um jovem advogado e que tinha participado do seu julgamento, escreveu em sua reminiscências: “Ao refletir sobre os acontecimentos de quase sessenta anos atrás, um fato fica claro, além de qualquer discussão. O processo contra Oscar Wilde não deveria ter sequer começado.”
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Professor de Literatura Inglesa
O esteticista Oscar Fingal O’Flahertie Wills Wilde nasceu em Dubin (Irlanda) em 16 de agosto de 1854. Faleceu em Paris, no dia 30 de novembro de 1900. É considerado uma das figuras mais célebres da história da literatura mundial.
Wilde é aclamado, na literatura inglesa, como o segundo nome mais importante depois de William Shakespeare. Mesmo sendo um dos escritores mais populares da Inglaterra, muitos ingleses consideram essa colocação um tanto exagerada, supondo até que se não tivesse ocorrido o “escândalo” em sua vida, talvez ele caísse no esquecimento. Esse pensamento está muito longe da verdade.
Ele teve a infelicidade de ter nascido numa época extremamente preconceituosa, numa sociedade vestida sob regras rígidas de comportamento e ética. Qualquer desvio era duramente penalizado. E foi sob a acusação de sodomia que ele passou dois anos na prisão, com trabalhos forçados. Sobrevieram as degradações físicas e financeiras, psicológicas e morais. Se o atestado de óbito determinava “meningite cerebral”, por outro lado podemos chamar de “tristeza profunda”. Foi o preço da ousadia, da exuberância, da língua afiada que tanto o havia projetado à alta sociedade, e que depois o derrubava. Sua rara espiritualidade e preocupação estética, seus princípios filosóficos e morais hedonistas. Foi um crítico impiedoso da sociedade de seu tempo. “A sociedade, tal como a constituímos, não terá mais lugar para mim, nem me oferecerá nenhum.”
Mas ele não ficou famoso na história apenas por seu envolvimento amoroso com Lord Alfred Douglas, pela intolerância e hipocrisia do pensamento vitoriano. O irlandês foi um grande poeta, romancista, dramaturgo e crítico literário. Foi um grande proseador e frasista. Mas os maiores êxitos literários foram as comédias de costumes. Nesse sentido, seu primeiro sucesso foi O leque de Lady Windermere (1892). Neste mesmo ano, a peça Salomé arrepiava as platéias. Em 1893, Uma mulher sem importância, e em 1895 Um marido ideal e A importância de ser prudente. E muitas outras obras.
O Retrato de Dorian Gray, seu único romance, é o primeiro dos livros de Wilde no qual se encontram evidências de homossexualismo. É considerado sua obra-prima e um dos mais notáveis clássicos mundiais. Em seu prefácio, afirma que “nunca o artista é indecente. O artista pode exprimir tudo”. Muitos críticos afirmam que há muito de Wilde no personagem Dorian Gray. Mas no livro ele próprio afirma que “revelar a arte e ocultar o artista é o objetivo da arte”. Segundo o ensaio biográfico-crítico de James Laver, o livro não é indecente, mas conduz o leitor a um clima de sensibilidade. Nas palavras de Wilde, “qualificar um livro de moral ou imoral não significa coisa alguma”. Muitos de seus livros, que alguns críticos consideravam imorais, foram proibidos de serem vendidos e suas peças saíram de cartaz.
Na sua bibliografia, podemos destacar ainda O Príncipe Feliz e outros contos, Uma Casa de Romãs, O Crime de Lord Saville e outras histórias e Contos diversos.
Na prisão, escreveu A balada do cárcere de Reading, e em seguida De Profundis (Das Profundezas), “talvez a mais amarga apologia da dor até hoje escrita por um poeta”, nas palavras de Otto Schneider. Em De Profundis, Wilde afirma que “muitos homens, quando terminam o período da sua condenação, levam ainda consigo o cárcere, escondem-se no âmago do coração como uma secreta desgraça, e, por fim, como pobre criaturas para sempre envenenadas, escondem-se num buraco sombrio, e morrem”.
Famoso por seus aforismos, dois merecem ser citados agora: “Sou capaz de suportar tudo – menos uma boa reputação” e “a sociedade às vezes perdoa o criminoso, mas nunca o sonhador”. Ele viveu intensamente. Viveu cada momento.
Quase sessenta anos depois da sua condenação, em 1954, o juiz Travers Humphreys, que na época ainda era um jovem advogado e que tinha participado do seu julgamento, escreveu em sua reminiscências: “Ao refletir sobre os acontecimentos de quase sessenta anos atrás, um fato fica claro, além de qualquer discussão. O processo contra Oscar Wilde não deveria ter sequer começado.”
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Professor de Literatura Inglesa

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